«Sabemos que a cultura espanhola nunca renunciaria a desfrutar da música do Silvio Rodríguez ou da literatura do Gabriel García Márquez. Nem sequer renunciaria a assumi-las como próprias»

Num cenário decorado com um punho a suster um cravo vermelho, artistas da Galiza e Portugal — Uxía, Francisco Fanhais, Nao, Cais da Saudade, Falua, Banda das Crechas, Do Fondo do Peto, Tiago Fernandes, Xico de Carinho & Manolo Bacalhau — conduzidos pola poeta Arancha Nogueira e o apresentador Carlos Blanco colocárom o ramo a um fim de semana atestado de actividades para o lançamento do núcleo galego da Associaçom José Afonso.

Depois da apresentaçom aos meios de comunicaçom na sexta 26 ao meio dia, a cargo do presidente do núcleo galego, Xulio Vilaverde, e do vice-presidente da Direação Nacional da AJA Portugal, Paulo Esperança, a AJA Galiza já estava pronta para começar a trabalhar. Esse mesmo dia, às 20h, inaugurou na Casa das Crechas umha exposiçom fotobiográfica sobre José Afonso baixo o título: «Zeca Afonso: o que foi, o que é», que poderá ser visitada no local da Via Sacra até 28 de Fevereiro, e que contém materiais sobre o cantor, poeta e activista português além dos mais conhecidos. Na apresentaçom estava prevista umha pequena actuaçom musical a cargo de Manuel Teixeira, mas outras pessoas público nom quigérom deixar de somar-se ao canto.

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Depois, o jantar de confraternizaçom entre as promotoras do núcleo galego e meio cento de pessoas vindas de Portugal para a ocasiom serviu de cenário também para a assinatura solene do protocolo de colaboraçom que fai da associaçom galega mais um dos outros quinze núcleos que já trabalham em Portugal e em Bruxelas. É, portanto, o segundo núcleo da AJA fora de Portugal, com a particularidade de o belga estar conformado por emigrantes portugueses, enquanto o galego é constituído por pessoas da Galiza. Francisco Fanhais, um dos músicos que mais acompanhou o José Afonso e que hoje é o presidente da AJA lembrou, emocionado, a primeira vez que visitou a Galiza, precisamente para tocar com o Zeca, e como ficou aqui enquanto outros componentes do grupo passavam a Portugal para realizarem outras actuaçons. Fanhais estava, na altura, exilado na França e nom podia regressar ao seu país sem pôr em risco a própria liberdade.

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Memória e festa

O sábado foi o dia central dos actos de lançamento da AJA. Depois da recepçom oficial no concelho de Compostela por parte dos grupos políticos e do governo municipal, o segundo ponto público de referência colocado pola AJA para o seu roteiro inaugural foi o centro social da Gentalha do Pichel, que ficou pequeno para acolher a palestra a cargo de Paulo Esperança sob o título «O triângulo mágico na vida e obra de José Afonso: África-Portugal-Galiza», precedida de umha introduçom de Beatriz Bieites (AJA Galiza) sobre a necessidade e urgência de que um projeto como a AJA vinhesse a aparecer na Galiza: «as pessoas galegas que estamos aqui sabemos que a cultura espanhola nunca renunciaria a desfrutar da música do Silvio Rodríguez ou da literatura do Gabriel García Márquez. Nem sequer renunciaria a assumi-las como próprias. Mas, no entanto, nós fazemo-lo. Nós desconhecemos esse legado, e isso só se explica porque estamos cegas, alienadas e, afinal, atrapadas num universo cultural que nom é o nosso, que é o espanhol. E, mesmo assim, eu penso que temos que reconhecer que na Galiza o seguimento do movimento cultural português é maior do que ao contrário. O certo é que do outro lado do Minho, pouca gente sabe de nós. A AJA, penso eu que também vai tentar resolver isto».

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Depois, o epicentro foi trasladado ao lugar escolhido para o concerto de lançamento, que encheu a Sala Malatesta e que começou com a música tradicional de Do Fondo do Peto a ser interpretada entre o público a bailar e saltar à volta dos músicos composteláns. A seguir, Manolo Bacalhau e Xico de Carinho — outro dos artistas que tocárom com o Zeca nas suas estâncias na Galiza, e também fora —, que interpretárom, entre outros temas, o clássico «Lá vai Jeremias», um dos temas de mais clara raiz popular na obra do José Afonso. O concerto continuou entom com a participaçom dos grupos e artistas portugueses. Francisco Fanhais a capella e depois acompanhado de Cais da Saudade, os próprios Cais da Saudade como grupo, e finalmente o solista Tiago Fernandes colocárom na Malatesta os sons do Zeca a modo, inevitavelmente, de homenagem ao seu músico mais internacional — mesmo que a AJA Galiza nunca projectou este concerto-lançamento desse ponto de vista. Por último, foi a vez do que Carlos Blanco e Arancha Nogueira denominárom a «descarga galega». Começou com Uxía, verdadeira referente da música galega a sul do Minho e a Raia Seca, e também verdadeiro símbolo dos esforços por superar o afastamento entre umha e outra beira de umha fronteira que “já nom existe”, mas insiste. Depois foi a vez de Falúa, com os seus temas de tradiçom galega apresentados como tributo à memória do Zeca, e da Banda das Crechas, que enchêrom o cenário por completo e pugêrom o público de novo a dançar. E, para rematar, Nao, a banda de rock galega que versionou o «Vampiros» que cada ano milhares de pessoas cantam nos festivais do país e nos seus concertos, a demostrar que a música de José Afonso pode ser trasladada a qualquer estilo.

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O Parque José Afonso

A jornada do domingo 28 foi de encerramento, para Compostela exibir diante da delegaçom portuguesa e de quem se quiser achegar, o que provavelmente seja o único parque no mundo dedicado a José Afonso, e que está situado justo enfrente ao Burgo das Naçons, o lugar onde foi interpretada pola primeira vez, em 10 de Março de 1972, a «Grândola, Vila Morena» que depois viria a ser usada como sinal revolucionária no 25 de Abril.

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Documento de constituiçom da Associaçom José Afonso – Núcleo Galiza
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